domingo, 29 de março de 2009
HISTORIA DA FOTOGRAFIA NO INICIO DO SÉC.XX (NA EUROPA E ESTADOS UNIDOS).
Considerando a História do Mundo e a História da Arte, as primeiras décadas do seculo XX, foram assinaladas por registros marcantes para a humanidade.O anuncio da Teoria da Relatividade Einstein (1905) _ também a primeira exibição fovista Die Brucke é fundada;Terremoto que abala São Francisco (1906); Picasso funda o Cubismo (1908);Kandinsky pinta o primeiro quadro abstrato em 1910 e os futuristas lançam manifesto;Primeira Guerra Mundial (1914); começo o Dadaísmo (1916);Fundação da Bahaus (1918);Mulheres dos EE.UU votam (1920) – Surrealistas lançam manifesto.
Todos esses fatos, refletiram nessas decadas muita conturbação,em todos os níveis: científico,social,político e , cultural.
A arte passou a ser muito convulsiva,um estilo sobrepunha o outro com muita rapidez.Nesse século, ela produziu a ruptura mais radical com o passado, levando a extremo o que Coubert e Manet iniciaram no seculo XIX_ retratos da vida contemporânea e não eventos históricos.
Diante dessa filosofia de rejeição ao passado,chamada Modernismo, havia a busca incessante de uma liberdade radical de expressão. Livres na necessidade de agradar os mecenas, os artistas elejeram a imaginação e experiências individuais, a unica fonte de arte. A arte se afastava gradualmente da pretensão de retratar a natureza, em rumo a abstração, em que dominam as formas, linhas e cores.
Ela não só decretou que qualquer tema seria adequado, mas também libertou a forma das regras tradicionais(como no Cubismo) e livrou as cores da obrigação de representar com exatidão os objetos. (no Fovismo).
Assim também, a fotografia, não poderia ser diferente.Inicia o sec XX em plena ascensão e desenvolvimento tanto no que se refere ao equipamento fotográfico quanto a quebra de estilos convencionais. As experimentações na busca de uma matriz para reprodução da fotografia, durante e no final do século XIX, do uso de negativo em colódio a emulsão de gelatina em papel flexível até chegar aos filmes em rolos em vez de suportes de vidro.O início do sec XX persistem os fotógrafos de retratos, agora mais elaborados, surgem os interessados em fotografar construções, pessoas do cotidiano, como Eugène Atget, começam a surgir os estilos, as preferências por certos temas , como as fotogravuras de Alvin Langdon, e a fotografia direta de Paul Strand. Além destes houveram os que fizeram fotografia de registro como Arnold Genthe, nas fotografias do terremoto de São Francisco em 1906. Lewis Wickes Hine, também considerado grande fotógrafo documental e social da América, fotografou crianças em trabalhos de minas e fabricas de carvão. e no ano subseqüente, a Child Welfare League denunciando o trabalho infantil. Mudou a sua ênfase de uma documentação clara e objetiva de emoção para um estilo mais interpretativo de fotografia. August Sander considerado o pai da fotografia de retrato, fotografou pessoas, de um modo particular contribuindo para o reconhecimento da fotografia como arte. Ocorreram ainda os que se interessaram por cenas em movimento como Jacques-Henri Lartigue, que no final de carreira inaugura a fotografia de moda. Fotografias de nus também foram exploradas nesse período do sec XX, com por exemplo, Wilhelm Von Gloeden e seus retratos de jovens do sexo masculino em poses antigas clássicas, tirados ao ar livre.Por fim fotógrafos como, Alexander Rodchenko, Man Ray, László Moholy-Nagy, El Lissitzky, que trouxeram para a história da fotografia, uma potente carga de experimentação e criatividade. Man Ray , considerado um dos pioneiros mais importantes da fotografia contemporânea, abre em seu trabalho, novos caminhos em relação principalmente a experimentação e marca o reconhecimento da fotografia no contexto artístico. László Moholy-Nagy, um dos pioneiros inovadores da fotografia do sec. XX. El Lissitzky, um dos artistas mais notáveis da vanguarda russa na fotografia, que contribuiu significativamente para a implementação e disseminação de idéias construtivistas e de supremacia. Foi um experimentador no campo da fotografia, desenvolvendo fotomontagens e fotogramas.
Eugène Atget (França) 1857 –1927
Vaso no jardim do castelo, cerca de 1900.Impressão a gelatina
Impressão a gelatina e brometo de prata
Paul Strand (USA), 1890-1976
*Fotografia direta - imagens feitas pelo contato direto da câmera com a realidade, sem intervenções no laboratório ou na cópia. (http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC)
Alvin Langdon Coburn (USA)1882-1966
Em 1902, abriu seu próprio estúdio em Nova Iorque. Por intermédio de Alfred Stieglitz, publicou na revista Camera Work, algumas das suas fotografias e fotogravuras. Convivendo com os amigos de Stieglitz, familiarizou-se com as tendências vanguardistas da arte, buscando assim, novas formas de expressão com a fotografia. Fez experiências com perspectivas e desenvolveu interesse por estruturas e formação abstrata.
Em1912, na Grã-Bretanha, fez contatos com membros do grupo de cubistas ingleses denominados “Vorticistas”, surgindo daí,inspiração para os “Vortographs” de Coburn, ,em cuja fragmentação cubista das formas, usou prismas refletores. Sua carreira ficou também famosa pelos retratos de personalidades famosas contemporâneas, publicadas entre 1913 e 1922, nos volumes Men of Mark. MBT.
A ponte de Ipswich, cerca de 1904
Fotogravura.
Catedral de São Paulo do Ludgate Circus, Cerca de 1905.
Fotogravura.
Genthe Arnold ( Berlim) 1869- 1942.
São Francisco, Tremor de terra (1906)
Impressão à gelatina e brometo de prata.
Hine,Lewis Wickes
Em outras viagens pelos EUA, fez registros sobre as condições sociais das crianças. Ingressou em 1918 para a Cruz Vermelha, indo para a França. Mudou a sua ênfase de uma documentação clara e objetiva de emoção para um estilo mais interpretativo de fotografia. O seu nome era agora publicado como “Lewis Wickes Hine, Fotografia Interpretativa”. Com registros de trabalhos operários, buscou mostrar que não era a máquina, mas o homem que criava afluência. A Hine em 1930 coube a incumbência de documentar o projeto de construção do Empire State Bulding.As imagens vistas pelo fotógrafo como “Interpretação Industrial”são provavelmente as suas fotografias mais famosas.
sem título, 1910
Jovem garota operando maquinária em North Carolina textile mill, 1908.
August Sander (Alemanha) 1876-1964
Pai da fotografia de retrato “ Every person's story is written plainly on his face, though not everyone can read it.” August Sander
Bricklayer, 1928
(impressão a gelatina e brometo de prata)
Jacques-Henri Lartigue (França) 1894-1986
Delay grand prix, 1912 (impressão a gelatina e brometo de prata)
Bois de Boulogne, 1911 (impressão a gelatina e brometo de prata)
Zissou a voar, 1910 (impressão a gelatina e brometo de prata)
Gloeden, Wilhelm Von Alemanha (1856-1931)
Por ocasião da Primeira Guerra Mundial, se viu obrigado a abandonar Taomina, por quatro anos. Teve suas fotografias condenadas como obscenas e destruídos a maioria dos negativos de vidro e impressões nos anos trinta, depois de sua morte.
Dois jovens sicilianos sentados, cerca de 1900
Man Ray (USA) 1890 – 1976
Considerado um dos pioneiros mais importantes da fotografia contemporânea. Seu trabalho abre novos caminhos em relação principalmente a experimentação. Marca o reconhecimento da fotografia no contexto artístico.
Self-Portrait Assemblage, 1916
Clock Wheels, 1925
Alexander Rodchenko (Russia) 1891-1956
A crise, 1923 (fotomontagem)
Retrato da mãe, 1924 (impressão a gelatina e brometo de prata)
László Moholy-Nagy (Hungria) 1895-1946
Moholy-Nagy tentou aclarar a relação entre pintura e a fotografia promovendo uma separação clara entre as duas formas de expressão. Enquanto considerava a pintura como forma de criação com cor, usava a fotografia para a observação e representação do fenômeno da luz. Para ele a fotografia não era sobretudo uma ferramenta auxiliar para intensificar a visão humana como acontecia frequentemente nos anos vinte, mas um novo meio artístico. Aplicou o termo escultura ou relevo fotográfico às suas montagens. Percebia-as como “ compostas de diferentes fotografias, um método para testar a ilustração simultânea.. Todavia, conseguem contar histórias ao mesmo tempo, concretas, mais fiéis a vida, do que a própria vida”.
Fotograma, 1924
(impressão a gelatina e brometo de prata)
Militarismo 1924 (Fotomontagem)
Uma galinha é uma galinha, 1925
(impressão a gelatina e brometo de prata)
Edward Weston (USA) 1886-1958
Seus primeiros retratos foram inspirados no construtivismo e datam de 1918-1922.
Chambered Nautilus faz parte de uma série de trabalhos modernistas, de natureza antropomórfica.
Boris IIgnatovich (Russia) 1899-1976.
Hermitage, 1929
Impressão a gelatina e brometo de prata
Eremin Yuri Moscovo
Na fotografia, Rua em Buchara com camelos, “ Eremin documentou a atmosfera oriental do sul da Russia. Uma vista de uma rua através de uma arcada à sombra, ele conferiu um encanto especial à imagem: as figuras escurecidas e a porção da arcada em primeiro plano criam um contraste com o fundo brilhante inundado de sol, realçando a impressão de profundidade da fotografia”
Rua em Buchara com camelos, 1928
(impressão a gelatina e brometo de prata)
El Lissitzky, (Moscovo) 1890-1941
A FOTOGRAFIA NO BRASIL NO INICIO DO SEC,XX.
Boris Kossoy
Expansão fotográfica no Brasil:
Nas três primeiras décadas do novo século, a fotografia teve como cenário principal, as cidades costeiras, em especial Rio de Janeiro, seguindo-se Recife e Salvador, por representarem portos tradicionais, através dos quais se faziam a exportação de matérias-primas produzidas no Pais e praticavam a importação de produtos manufaturados, contudo, outros profissionais da área atuavam de forma amadora por diversas partes do pais, são os fotógrafos que passaram despercebidos, e os anônimos, cujos registros assinalaram uma época, estilo de vida , uma cultura .
A fotografia como ferramenta nos trabalhos de documentação.
Objetivos:
Ø Levantamentos da Comissão Geográfica e Geológica, sobre a chefia do engenheiro João Pedro Cardozo pelo interior de São Paulo;
Ø Registro de trabalhos dos peões da Indústria Madeireira, o embarque da madeira pela estrada de ferro, etc., documentário de cunho histórico e social feito pelo fotógrafo Wischeal, no Paraná.
Ø Registros sobre as transformações urbanas destacando-se os fotógrafos Augusto Cesar Malta dos Santos no Rio de Janeiro e F. Du Bocage em Recife.
O foco do trabalho desses dois últimos profissionais era registrar trabalhos de demolição, obras em construção e vistas das referidas cidades. Acredita Boris Kossoy, que F. Du Bocage, também tenha sido contratado pela administração da cidade, para fotografar obras em demolição, além de vistas panorâmicas, tal qual fez o Malta.
Augusto César Malta dos Santos - Alagoas- 1864-1957
Sobre seu álbum impresso com vistas do Rio de Janeiro em 1911, comenta sobre as dificuldades de impressão no país, no que diz respeito à qualidade, naquela época. “Tentámos uma vez, a impressão das nossas photographias na Europa, porque, infelizmente, em photomecanica, estamos atrasados, embora algumas casas trabalhem com regular perfeição...”.
.Malta foi também um fotógrafo preocupado com o registro instantâneo, face à abordagem direta. Utilizando seus instantâneos sobre o Carnaval e cenas cotidianas, Malta inaugura o fotojornalismo brasileiro.
Marujos norte-americanos observando no Mangue, 1908.
Reprodução da obra de C,J,Dunlop, Rio antigo.Rio deJaneiro, Laemmert, vol.II.
Bonde da estrada de ferro Jardim Botânico - Largo da Carioca. Rio de Janeiro 1904.
Av. Central (atual Rio Branco) Rio de Janeiro 1905.
Estrada de Ferro do Corcovado. Rio de Janeiro1906.
Vista aérea do Rio ( ainda sem o bondinho vemos o Pão de Açucar.) Rio de Janeiro. 1906.
Estada de ferro Corcovado, carro plano e locomotiva. Corcovado. Rio de Janeiro, 1907.
Av. do Mangue. Av. do Mangue. Rio de Janeiro, 1908
Vista do Pão de Açúcar e HMS "EAGLE" no primeiro plano. Baía de Guanabara. Rio de Janeiro. Cerca de 1926.
Double deck bus. Rio de Janeiro. 1927 circa
Valério Vieira- Angras dos Reis (1862-1941)
Fotografa o vale do Paraíba, Ouro Preto e em São Paulo permanece como retratista. Tornou-se um dos fotógrafos mais conceituados da capital paulista. Explorou as possibilidades da câmara de forma criativa, destacam-se sua fotomontagem “Os 30 Valérios” e “Os Panoramas “ da cidade de São Paulo, um desses apresentava 12 m de comprimento, foi premiado pela Exposição Nacional de 1908.
Com “Os 30 Valérios” - c.1900
Fotomontagem por Valério Vieira, São Paulo,
Valério Vieira recebeu em 1904, medalha de prata na Feira Internacional de Saint Louis (EUA) pelo auto-retrato “Os 30 Valérios, o qual representa um festivo ambiente em que se vê uma pequena orquestra em atividade sendo apreciada . Todos os personagens da orquestra são o próprio Valério, até mesmo o busto sobre o móvel e os retratos dispostos na parede ao fundo.
Guilherme Gaensly- Suiça (1884-1928)
Cartão postaldo início do século: “São paulo – Colheita de café”
ColeçãoBoris Kossoy, São Paulo.
Registro do trabalho do colono imigrante nas fazendas de café no interior paulista.
Rua 15 de Novembro. São Paulo. 1902 circa.
Bonde elétrico para transportar farinha. São Paulo. 1905.
Rio Tieté - Clube de Regatas. Rio Tietê. São Paulo. 1905 circa.
Jardim da Luz. Jardim da Luz. São Paulo. 1906 circa.
Monumento do Ipiranga - Museu do Estado. Ipiranga. São Paulo. 1906 circa.
Rua Direita. Rua Direita. São Paulo. 1916.
Francisco du Bocage- França ( ? )
A Bocage se deve importante coleção de vistas urbanas e dos arredores do Recife, vistas essas que deram origem a uma série de cartões-postais. Tudo indica que tenha sido contratado pela administração municipal para a documentação das obras do porto do Recife. Incluem-se neste conjunto aspectos de demolições e vistas dos cais Martins de Barros, entre outras obtidas em chapas de vidro de formato panorâmico aproximado de 7,5 cm x 24 cm.
Fotografia atribuída a F.du Bocage.
Reprodução de uma cópia do negativo original
Fotografia atribuída a F.du Bocage.
Reprodução de uma cópia do negativo original.
Coleção Secretaria de Educação e Cultura do Município do Recife.
Carioca, do Rio de Janeiro, é um dos pioneiros da fotografia no Brasil. Estudou em Paris (1859) e voltou ao Rio onde trabalhou com o gravador e litógrafo com George Leuzinger. Aprendeu a fotografar com o engenheiro e botânico Franz Keller e fundou sua própria firma, a Marc Ferrez & Cia (1864). Integrante de uma expedição científica da Comissão Geológica do Império do Brasil, quando fotografou pela primeira vez, em plena selva, os índios botocudos (1875). Participou de várias exposições internacionais e teve algumas obras premiadas.
Retratou cenas dos períodos do Império e início da República, entre 1865 e 1918, sendo que seu trabalho é um dos mais importantes legados visuais daquelas épocas. Recebeu D.Pedro II o grau de Cavaleiro da Ordem da Rosa (1885) por ter sido professor de fotografia da princesa Isabel e, por seu trabalho artístico Marc Ferrez foi o único profissional de fotografia que recebeu o título de "Photographo da Marinha Imperial", em 1880.
Suas obras mostram o cotidiano brasileiro na segunda metade do século XIX, principalmente da cidade do Rio de Janeiro, capital brasileira na época. As fotos da floresta da Tijuca, da praia de Botafogo, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, da ilha das Cobras, focadas nas imagens urbanas de uma cidade que começava a se expandir, num período anterior à reurbanização empreendida pelo prefeito Francisco Pereira Passos, no início do século XX.
Bilhetes postais da casa Marc Ferrez 1906 e 1900
Cedula de 100 mil reis do tesouro nacional 1907
Av. Central Rio de janeiro 1910
BIBLIOGRAFIA
· Fotografia do Século XX, Taschen, Museum Ludwig de Colônia, 2005.
· Dubois,Philippe., O ato fotográfico, 8a Ed, Ed, Papirus, 2004.
· Kossoy, B., Fotografia e história, 2ª Ed.,Ateliê Ed.,2001.
· Kossoy, B., origens e expansão da fotografia no Brasil, sec XIX, RJ, FUNARTE, 1980.
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_du_Bocage
· Brascan – Cem anos no Brasil, http//acervos.ims.uol.com.br
· Ferrez, Marc., Ed. Cosac& Naify,2002
. Strickland , Carol- Arte Comentada, Rio de Janeiro, Ediouro,7ª Ed,2002.